Etapa 09 - C. AUSTRAL / LAGOS ANDINOS

Países: ARGENTINA CHILE

Datas: 15/01/00 a 21/01/00

 

15/01/00 Sábado - Bajo Caracoles e Início da Austral (590Km)

Dormimos no carro dentro do Camping Municipal de Três Lagos porque a preguiça de montar as barracas nos venceu este dia. Estávamos cansados e precisávamos acordar cedo, pois o atraso de 4 dias persistia. "Dormir pouco é dormir mal" - essa foi a estratégia que usamos para não atrasar! Partimos para Bajo Caracoles, um pequeno povoado porta de entrada para a visitação da famosa "Cueva de las Manas", uma caverna distante 40Km de Caracoles encravada em um canyon que exibe em suas paredes pinturas de mãos com mais de 8 mil anos. Ao turista é cobrado US$3,00 para se fazer a visitação. Apesar de todo caráter histórico que cerca a visitação, nós ficamos um pouco decepcionados com o que vimos. No lugar de uma caverna, que achávamos que seria enorme, encontramos um "buraco" com pouco mais de 15m de profundidade. As pinturas são cercadas por grades e parecem ter sido feitas recentemente com spray!!! O que salvou alí foi o canyon que é realmente lindo, muito bonito de se apreciar e onde se pode fazer uma agradável caminhada em meio a vegetação do lugar.

Na volta para Bajo Caracoles fomos parados por agentes da polícia argentina. Como estávamos com tudo em ordem não tivemos problema só uma advertência por eu estar sem o cinto de segurança. Continuamos na estrada agora em direção a fronteira com o Chile, chamada Paso Roballos. Esta fronteira foi a mais "sossegada" até o momento... ela é totalmente isolada e tivemos inclusive problemas para achá-la... fomos muito bem recebidos e conversamos bastante com o pessoal que por lá já estava desde 27 de dezembro.

Entramos no Chile contornando o Lago General Carrera (o mais lindo até agora) e ingressamos na bela Carreteira Austral, onde cruzamos as mais belas paisagens até o momento.

Continuamos até Cochrane, onde dormimos em um camping dentro da reserva Tamangos. (Dado)

16/01/00 Domingo - O mais lindo dos trechos (369Km)

Este dia foi show!!! Saimos da reserva Tamangos ao pé das cordilheiras em Cochrane e logo em seguida já tivemos a oportunidade de tomar um belo banho no lago General Carrera... o dia estava lindo e estava calor demais... as águas azuis realmente nos deixaram abobados!!!

Neste momento ainda tivemos uma agradável surpresa... vimos uma picape vindo pela estrada e logo nos gritaram: - Tinha que ser brasileiro mesmo!!! Era o casal "Pinguins", Ricardo e sua mulher, que estão viajando pela Patagônia em um roteiro parecido com o nosso... seu trabalho também está muito bacana e pode ser acompanhado pelo site: www.pinguinsdodeserto.com.br

Ainda pela Austral conhecemos também Ricardo, paulistano que estava "caminhando por alí"!?!... Nesta sua centésima visita a região havia feito um trekking de 14 dias por trilhas totalmente desconhecidas tendo vivido situações extremas de aventura!!!

Êta estrada linda!!! A Carretera Austral é para muitos considerada a mais bela estrada do mundo!!! Seu início se dá em uma cidade pouco mais ao sul de Cochrane, Gen O'Higgins, onde há um trecho recém inaugurado. Em toda sua extenção ela segue pela Cordilheira dos Andes por meio de vales e lagos totalmente inexplorados, até a cidade de Puerto Montt (sendo interrompida em alguns trechos por breves trechos de balsa).

Obviamente que sua beleza nos impressionou muito mas ficamos pasmos ainda mais com o fato de que poucas pessoas a conhecem e a utilizam... a grande maioria das pessoas que sobem de Puerto Natales ou Torres del Paine (sul do Chile), fazem a opção de desviar pela Argentina ou se utilizam de transporte aéreo... O governo chileno não tem medido esforços na tentativa de melhorar seu pavimento e incluir infraestrutura, sempre incentivando turistas, através da divulgação das belezas da região e das atividades que alí podem ser praticadas, como turismo de aventura e pescaria. A estrada realmente não é das melhores pois é constituída na sua maioria de rípio (cascalho) e se encontra em obras constantes. Apesar disso tudo acreditamos que um carro normal possa percorrê-la sem maiores problemas se utilizando de pelo menos 2 steps e um galão de combustível extra.

Rodamos o dia todo e chegamos na agradável cidade de Coyhaique. Para completar nosso belo dia conseguimos vaga para descansar em uma rústica e confortável casa de família onde fomos tratados excepcionalmente bem... anote esta dica campeã para quando você vier até Coyhaique: Pousada Ventisqueiros (Sra. Moira) e restaurante Cassino dos Bombeiros onde se aprecia o mais maravilhoso salmão dos andes. (Fabiano)

17/01/00 Segunda-feira - Dia de trabalho e amigos (77Km)

Acordamos bem tarde, a cama macia e confortável coisa que não viamos a muito tempo nos seduziu. Por volta das 11:00 nos despedimos do paraíso levando de presente a internacional e maravilhosa geléia de framboesa da Sra. Moira.

Saímos em busca de Internet... nem tudo deu certo... tentamos conexão na Antelco, uma operadora chilena, mas não nos deixaram conectar o laptop e tão pouco utilizarmos nossos disquetes 3,5. Perdemos muito tempo tentando convencer os caras mas não teve como. Na Antelco ainda encontramos também o Ricardo, nosso amigo "pouco" maluco, e o casal da expedição Pinguins do Deserto. As fotos da aventura do Ricardo estava show de bola!!!

Eu estava precisando trocar uns traveles e saí para procurar uma casa de câmbio... descobri que todo o comércio de Coyaque fecha das 12:00 às 15:30, tivemos que esperar... mais atraso!!

Já que tinhamos que ficar na cidade para resolver o problema da Internet e câmbio de moedas, resolvemos arrumar dois pequenos problemas da Rainha: soldar um pedaço do escapamento que estava se rompendo e prender umas borrachinhas do capú que estavam destruídas... quem tem Bandeirante sabe de qual borrachinha estou falando!!

Enquanto o Fabiano tentava uma nova conexão, agora na Telefônica eu e o Parágua fomos dar uma geral nas nossas gambiarras. No posto da Shell apareceu um senhor com uma Toyota Bandeirante vinho, linda, impecavél. Fomos até ele para pedir algumas informações e encontramos um auténtico jipeiro. Mário não só podia nos dar as melhores dicas como fez questão de nos levar ao melhor funilero da cidade. Ele ainda nos presentiou com "remeras" (camisetas) do Jeep Clube de Coyhaique. Sem dúvida mais um amigo que fizemos na viagem... Resolvemos tudo "na faixa" e fomos encontrar o Fabiano na Telefônica.

Mais um presente, ganhamos a conexão da internet com o pessoal da Telefônica de Chile... o gerente gostou do projeto e gritava com sotaque: - Brasil maior de mundo!!!

Com muito atraso e com alguns novos amigos deixamos a bela cidade de Coihayque. Até Maniguales foram 77 Km de estrada de mão dupla asfaltada. Lá fomos abrigados mais uma vez pelos Carabineros del Chile que nos deixaram colocar o jeep em seu estacionamento. (Dado)

18/01/00 Terça-feira - Mais Carretera Austral... (624Km)

Saímos bem cedo de Maniguales. Nosso destino era chegar até a fronteira de Futelafú (Chile), uma cidade radical que possui os mais altos níveis para rafting da América Latina. No caminho tivemos que ficar atento ao gps e as sinalizações da estradas, pois existem várias saídas laterais e muitas bifurcações.

Todo o caminho até a fronteira é feito através da Reserva Nacional Futelafú. Muitas cachoeiras, uma vegetação cerrada, densa e uma estrada estreita compõem o ambiente da reserva. Em alguns trechos as estradas são como asfalto, pois as cinzas da última erupção do vulcão Hudson, em 1991, as transformaram em um "tapete". Confira as muitas fotos que tiramos. Na fronteira tanto do Chile quanto da Argentina não tivemos problemas, o que nos tem nos feito ganhar algum tempo pois havíamos estipulado pelo menos três horas por fronteira. Elas estão deixando de nos assustar.

Já na cidade de Trevellin, distante 31Km da fronteira da Argentina, duas rotas são possíveis para se chegar até Epuyén. Uma delas passa por dentro do Parque Nacional Los Alerces, pelo caminho conhecido como Rota dos Sete Lagos. Foi a que escolhemos. Apesar de estar mal conservada, a estrada pelo parque proporciona belíssimas e inesquecíveis paisagens como a da vista ao lago Futalaufqen, cuja cor azul da água é indiscritivel. Depois de passarmos algumas horas nessa estrada voltamos a rodovia 258 que nos levou até Él Bolsón. Uma cidade muito pequena que na década de 70 foi um importante reduto hippie na Argentina. Em El Bolson se encontram diversos campings muito bem organizados que preservam um pouco dessa cultura liberal. Resolvemos ficar por alí mesmo pois gastaríamos menos dinheiro que em Bariloche. (Dado)

19/01/00 Quarta-feira - Chegada em Bariloche (133Km)

Um ponto que realmente estamos deixamos a desejar em nossa expedição é com relação a alimentação. O cardápio mais requesitado até o momento é o Hot Dog. Barato e rápido de se preparar, porém sem nutrientes e não muito gostoso se comido repetidas vezes!!! Hoje para variar um pouco o cardápio comemos cachorro quente. Que beleza!!

De estomago cheio e bem calibrado seguimos para Bariloche distante 100Km de El Bolson. Esta cidade, meca dos esportes de inverno da Argentina e personagem de um dos filmes de Mazaroppi, lembra muito a Campos de Jordão. Situada as margens do lago Nahuel Huapi é extremamente turística. Mesmo sendo voltada para o inverno apresenta diversos meios de lazer para seus visitantes agora no verão. No centro de informações ao turista se pode obter diversas imformações sobre os passeios que são realizados pela prefeitura e as agências de turismo da cidade, destacando-se as excursões de Katamarán até o Chile, com saídas do porto Llao Llao. No inverno a cidade é coberta de neve, o que cria muitas pistas de sky que são exploradas por diversas empresas... nesta época certamente Bariloche ainda é mais charmosa e abarrotada de turistas.

Caso ainda você fique milionário da noite para o dia e precise de um lugar para relaxar... não deixe de conhecer o Hotel Llao Llao. Pela estonteante diária de US$470 você tem direito a spa, golf, esportes radicais, piscinas de todos os tamanhos, ginásticas de todo o mundo, meditação e restaurante internacional.

Rodamos pela rodovia Llao Llao, que atravessa toda cidade beirando o lago, e encontramos um belo lugar para ficar: Alaska Hostel... que contava ainda com uma agência de turismo para os hóspedes especilizada em turismo de aventura. Aproveitamos para responder uns emails e trabalhar um pouco...

Saímos um pouco mais tarde para o mirador da cidade que está a mais de 1200m de altitude e proporciona uma bela vista também do lago Nahuel Huapi e aproveitamos também para conhecer a noite da cidade, caminhando por todo o centro. (Dado)

20/01/00 Quinta-feira - PN Nahuel Huapi (536Km)

Após remendarmos o pneu furado do dia anterior fomos ao Parque Nacional Nahuel Huapi. Saindo de Bariloche fomos ao norte sempre beirando o lago de mesmo nome (pela RN231) e chegamos a San Martin de los Andes. O caminho foi tranquilo e as paisagens são belíssimas!!! A região é procurada por pescadores de todas as partes que praticam alí a pesca esportiva. Se pode encontrar inúmeros campings e alojamentos dentro do parque mas é preciso se observar as temporadas de pesca para não se interferir no ciclo natural de reprodução das espécies.

San Martín de los Andes fica na ponta norte do parque e é muito parecida com Bariloche. É uma cidade bem menor e nos pareceu ainda mais agradável.

Retornamos a Bariloche pela RN237, também pelo parque. É incrível como a paisagem muda neste trecho... cruzamos vales secos e serras inacabáveis... Formações rochosas transformavam a região dos lagos em cenário de Bang Bang Mexicano!! Chegando em Bariloche fomos rapidamente pegar nossas roupas na lavanderia... a mulher estava meio cansada... não sabemos porque! Jantamos Truta para não contrariar os hábitos locais e planejávamos ao menos cruza a fronteira ainda hoje. (Fabiano)

21/01/00 Sexta-feira - Vulcão Osorno (586Km)

Estávamos na fronteira para passar para o lado do Chile e fomos informados que ela só abriria as 8 da manhã... Bom, já não posso dizer que dormir no carro é ruim. Ainda mais quando são muitas malas, poeira, frio e três carinhas sentados entre as malas. Depois de ter passado por essa experiência 5 vezes você não liga mais para as constantes caimbras, chulé aleio e a posição incomoda que te faz acordar de hora em hora.

Depois de fazer os tramites legais sofremos nossa primeira vistoria geral em aduana. Não houve problemas, depois de alguns minutos já estávamos conversando e pegando dicas com os policias.

Logo depois de passar a fronteira chilena entramos no Parque Nacional Vicente Perez Rosales. Este parque abriga uma densa floresta em meio a diversas montanhas. Me lembrei do Parque Nacional da Bocaina no interior de São Paulo, muitas cachoeiras, trilhas estreitas, folhas úmidas, lindas paisagens...

Esta região do sul do Chile abriga diversos vulvões, alguns ativos outros não. Nossa parada do dia foi para conhecer o vulcão Osorno com seus 2661m de altura. O acesso a ele é meio complicado, são diversas bifurcações, estradas sem sinalização e em mal estado de conservação. Depois de nos perdermos algumas vezes chegamos a cidade de Ensenada, onde há um caminho de terra que chega a 1252 m de altura, o mais perto que se pode chegar de carro da cratera do vulcão. Nesta base há um simpático hotelzinho com restaurante, de onde saem as excursões para o cume... Como estávamos atrasados, prá variar, tiramos algumas fotos e encaramos a estrada mais uma vez em um longo trecho que nos levaria a Temuco, rumo a chamada região metropolitana do Chile. (Dado)

 

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