Etapa
05 - PATAGÔNIA ATLÂNTICA
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Países: ARGENTINA |
Datas:
02/01/00 a 05/01/00
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02/01/00 Domingo - 10.000Km!!! (645Km)
Nossa noite no camping foi tranquila. Se não fosse o calor continuaríamos dormindo até mais tarde. Levantei e encontrei o Gima estirado do lado de fora de sua barraca. Eu e o Dado imaginamos que poderia ter sido um pesadelo com os insetos do Chaco que tanto o aborreceram... mas o problema mesmo foi o terrível calor que fez durante a noite.
Achávamos que iríamos sair lisos do camping pois não haviamos encontrado o responsável na noite anterior... Doce ilusão ele já nos esperava para receber seus 12 pesos. Grande dia!!! Acordamos na Patagônia e festejávamos os dez mil Km do nosso carro!!! Além de comemorarmos que está "interasso" até o momento comemoramos também o fato de não termos tomado nenhuma multa até agora. Aproveitamos para fazer a troca de óleo, essa sim foi de graça, bancada pelo posto da Shell em Viedma. Ganhamos também um belo calendário e muitas dicas sobre o percurso que iríamos percorrer.
Fomos a um lugar ao sul de Viedma, chamado La Lobería, uma reserva faunística onde se adimira centenas de casais de lobos marinhos que la se encontram todos os anos para se reproduzirem. Um lugar cuja beleza é preservada e protegida por imensos paredões de 50m de altura, o que torna impossível que os turistas se aproximem, atrapalhando o ciclo da natureza.
Continuamos pela estrada "Costera", que segue beirando o mar ate San Antonio Oeste, um belíssimo caminho secundário, que proporciona as primeiras fantásticas paisagens da Patagônia.
Chegando em San Antonio esticamos até uma cidade próxima, chamada Las Grutas, cujas praias esculpem enormes cavidades nas encostas formando as tais "grutas". Fomos imediatamente recepcionados por três brasileiros que ali estavam, um deles uma senhora de nome Maria Levasier, que mora no sul do Chile a muitos anos, adorou nossa expedicão e até mesmo nos ofereceu um jantar quando passarmos por sua cidade, Temuco.
Após esticarmos as pernas e comermos alguma coisa, pegamos a estrada novamente, rumo a Puerto Madryn, cidade de entrada para a Península Valdez. (Fabiano Coura)
03/01/00 Segunda-feira - Reserva Faunística Península Valdez (520Km)
Dormimos esta noite no camping municipal de Puerto Madryn, controlado e mantido pelo Automóvel Clube da Argentina, o melhor até agora. Fica na movimentada Av. Roca e tem capacidade para abrigar mais de 1000 barracas. As instalações são 5 estrelas e vale destacar a segurança e a tranquilidade do local. No próprio camping há minimercado, bar, churrasqueiras, lavanderias e até piscina. Tudo isso para poder bem acomodar as centenas de pessoas que passam por ali para conhecerem as atrações da região.
Puerto Madryn foi fundada em 1886 para abrigar um porto no Golfo Nuevo. Começou a se tornar um destino turístico devido a sua proximidade com a Península Valdez e hoje possui uma estrutura de cidade grande mesmo estando distante mais de 1300Km de Buenos Aires. É a porta de entrada para de conhecer as incríveis reservas de vida selvagem da península. É onde geralmente as pessoas se hospedam e se preparam para ir a península. Na Av. Roca, a mesma do camping, é possível se encontrar todo tipo de serviço turístico possível para a península. Há uma grande variedade de casas de mergulho, agenciadores de passeios de jeep e de barco, para se observar as baleias.
A Península Valdez é o único lugar continental do mundo ao qual afluem elefantes marinhos, um lugar mágico que recebe, pontualmente, as baleias francas do sul que vêm procriar todos os anos. Infelizmente não podemos encontrá-las pois sua temporada havia se encerrado em novembro e somente retornarão em maio. Logo na entrada da península, no Istmo Ameghino, há um tal Centro de Interpretação onde se encontra pessoas muito bem dispostas a oferecerem todo tipo de informação sobre os caminhos, trilhas, fauna e flora da península. Antes de ingressarmos porém tivemos um pequeno desfalque de US$30,00. Um verdadeiro absurdo ainda mais se levarmos em consideração que os visitantes argentinos pagam a metade do preço.
Logo após entrar pegamos um desvio a esquerda que nos levou a Isla de los Pájaros. Uma ilhota distante + ou - 300m do continente onde se encontra uma quantidade enorme de espécies e exemplares de pássaros marinhos de toda região sul do continente, como biguás, gaivotas-rapineiras e corvos marinhos. Retornamos a entrada e pegamos a estrada principal que contorna toda península rumo a Punta Norte. Nesta pequena reserva isolada estavam cerca de 800 exemplares de leões e lobos marinhos tomando sol. Muito divertido ficar observando o quanto são desengonçados e inquietos.
Voltamos ao sul pela estrada costeira, que segue beirando o mar, onde frequentemente se observa espécies selvagens de Guanacos cruzando a estrada. Tão assustados quanto estranhos são como que um cruzamento de girafa e veado mas possuem uma cara de camelo. Chegamos em Punta Delgada já eram mais de 5 horas da tarde e lá fomos nós mais uma vez nos divertir com as espécies de leões e lobos marinhos. O mais interessante é que todos os anos eles estão ali no mesmíssimo local. Percorrem centenas de quilômetros todos os anos para se procriarem e acabam, sabendo ou não, propiciando um dos mais belos espetáculos da Patagônia.
Continuando o GIRO pela península chegamos a Puerto Pirâmides, pequeno vilarejo que funciona como shoping para mergulhadores. Há várias casas de equipamentos e agências que organizam cursos e mergulhos junto as baleias e leões marinhos. Lá enchemos nosso tanque rapidamente e tiramos umas fotos. O maior espetáculo do dia ainda estava por vir. Curiosamente pegamos uma estrada que seguia para o alto de uma montanha próxima a cidade. Nos deparamos com uma belíssima vista da cidade e das encostas que a cercam. Para finalizar fomos brindados com um pôr-do-sol magnífico perante aquela bela paisagem. Cansados, seguimos para o camping de Madryn mesmo. Achamos que seria mais vantajoso dormir por aqui, que já conhecíamos, do que andar mais uns 300Km e ter que se preocupar com lugar para dormir. Lá encontramos um casal de brasileiros em viagem também para Ushuaia. Gert e Cla são paulistas e estavam também com uma Bandeirante em um roteiro muito parecido com o nosso. Conversamos durante horas e até bebemos algumas Brahmas juntos. Possuem uma home page muito legal onde se pode acompanhar suas belas fotos (também de mergulho) - www.geosfera.com.br/patagonia. Outros portenhos apareceram e acabamos varando a madrugada batendo papo. É uma coisa incrível o tanto de pessoas que se conhece em uma viajem como esta. As pessoas ficam fascinadas quando percebem que somos brasileiros e querem saber tudo sobre a expedição. (Fabiano Coura)
04/01/00 Terça-feira - Vamos chamar os Pinguins!! (682Km)
Acabamos saindo atrasados novamente. Por mais que se planeje e se calcule é impossível manter algum itinerário fixo. Eu e o Dado estávamos conversando sobre nossa agilidade para mortarmos as barracas. A cada dia ficamos mais rápidos e na mesma proporção mais entediados com esta rotina. É impressionante como isso dá trabalho!!! Temos tanta tralha inútil que pensamos em começar a dar algumas de presente! Neste dia saímos em busca dos famosos pinguins magalhânicos.
Rumo ao sul, distante aproximadamente 200Km, fica uma pequena vila de pescadores chamada Camarones. Nesta vila se tem acesso a mais uma reserva ambiental, Cabo dos Bahías. Uma área de proteção que acolhe outras tantas espécies de animais como guanacos, avestruzes, lebres extintas e os famosos pinguins magalhânicos. Tanto esforços dias atrás para se chegar próximo a um Guanaco e não é que o responsável do parque havia domesticado 2 deles que encontrou perdidos da manada ainda quando bebês! A reserva conta com uma colônia de mais de 250.000 casais de pinguins. Estes simpáticos animais se juntam todos os anos alí para terem seus filhotes. É possível se caminhar pelo meio dos bichinhos mas é necessário que se tome muito cuidado para não pisar sobre eles ou chutá-los!! São infinitos pinguins por todo lado e ainda por cima são alucinados... não possuem freio... embalam e atropelam tudo o que está na frente!!
Na volta a Camarones tivemos nosso primeiro problema com o carro: se rompeu o tubo do escapamento bem no coletor. A Rainha virou um fórmula 1 por alguns instantes. Não na velocidade, o que é impossível, mas pelo estrondoso barulho que fazia. Fizemos uma rápida "gambiarra" com arame e alguns pescadores nos ajudaram a encontrar um soldador na cidade. Serviço completo! Aproveitamos para arrumar tudo o que estava prestes a desmontar e seguimos para Comodoro, onde dormimos no carro mesmo, junto a um posto policial. (Fabiano Coura)
05/01/00 Quarta-feira - Rio Gallegos (970Km)
Pontualmente as 8:00hs já estávamos na estrada. Esta é a vantagem de não se dormir confortavelmente... os primeiros raios de sol já te acordam!! Estava frio pra caramba e nos preparávamos para rodar ao menos 850 até Rio Gallegos.
A estrada é belíssima e segue beirando o mar por mais de 80Km após Comodoro Rivadavia. Os postos de serviço estão se tornando menos frequentes e vamos começar a manter os galões de combustível cheios permanentemente.
Aproveitamos a chance para conhecer o Monumento dos Bosques Petrificados, uma interessante floresta de araucárias que foi soterrada por lavas vulcânicas a cerca de 150 milhoes de anos atrás... hoje está tudo no chão, obviamente... porém pode-se observar inúmeros fósseis e se sentir momentaneamente nas épocas dos dinossauros...
Rio Gallegos é a capital da província (estado) de Santa Cruz. Uma cidade grande que oferece aos viajantes uma ótima estrutura em meio ao nada. Não foi possível conhecê-la mais do que a cama onde dormimos... estávamos cansados e somente pensávamos em chegar na Terra do Fogo pela manhã. (Fabiano Coura)
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