Etapa
14 - CUZCO / MACHU PICCHU
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Países: PERÚ |
Datas:
07/02/00 a 12/02/00
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07/02/00 Segunda-feira - Chegada na antiga capital Inca (139Km)
Depois de termos passado um pesadelo vivendo duras horas na estrada péssima que liga a cidade de Chivay a Sicuani finalmente encontramos o asfalto para Cuzco. Essa estrada parte de Sucuani e é toda asfaltada e bem sinalizada... muito diferente da calamidade que enfrentamos no dia anterior.
Cuzco, capital do estado de mesmo nome, se encontra no vale do rio Huatanay, na serra sul do Peru. Seu nome significa, na linguagem indígena da região (Quechua), "O umbigo do Universo", pois esta cidade, que foi a capital do Império Inca, era o ponto de partida de todos os caminhos para cada uma das quatro regiões que formavam "Las quatro partes del Mundo" segundo a visão mística dos povos andinos.
Considerada pelos incas "casa e morada dos Deuses", Cuzco é uma das cidades mais fascinantes da serra peruana. Sua singular arquitetura em que os estilos europeus contrastam com a solidez e grandiosidade das obras incas, realçam a beleza da cidade que tem um passado deslumbrante. Apesar da influência espanhola ainda há um ar inconfundivelmente andino.
Patrimônio Cultural da Humanidade, Cuzco tem hoje 255.000 habitantes e, como qualquer outra cidade com grande afluência do turismo, se recomenda tomar certas precauções para evitar situações de insegurança.
Nos hospedamos no Qosqo Hotel, localizado perto da Plaza de Armas, e deixamos a Rainha em um estacionamento bem seguro nas proximidades. A Plaza de Armas (toda cidade peruana tem uma!!!) é um dos cartões postais de Cuzco e em seus arredores existem grandes construções dos séculos XVI e XVII, além de diversos escritórios de turismo, casas de câmbio, cyber cafés e bares...
Ainda meio que perdidos fomos percorrer estas casas de turismo para obter informações e acabamos fechando um pacote que compreendia o "obrigatório" city tour e caminho inca de dois dias até Machu Picchu, o preço era de US$ 47,00 por pessoa, um preço mediano pelo que pudemos apurar em nossa pesquisa. Passamos o resto do dia fazendo os preparativos para o tour e caminhando um pouco pela cidade. (Dado)
08/02/00 Terça-feira - Conhecendo a cidade de Cuzco
Nosso dia foi dedicado a apreender um pouco mais sobre a cultura cusquenha e suas influências incas. Como já havíamos planejado, saímos para fazer o city tour pela cidade. Para se entrar em catedrais, museus, ruínas e tudo mais que a cidade oferece culturalmente, se deve comprar um certificado de visitação que custa US$10,00 (US$ 5,00 para estudantes). No tour, que sai as 14:00 horas e regressa as 18:00, se pode conhecer algumas das grandes obras incas e hispânicas na cidade de Cuzco. A fundamental presença do guia nos ajuda etapa a etapa a compreender muitas das estórias do passado deste magnífico povo.
Nossa primeira parada foi na catedral de Cuzco, localizada de frente da Plaza de Armas. Sua construção teve inicio em 1560 e foi consagrada em 1669. Tem arquitetura gótica com estilo maneirista e barroco. É magnífico seu púlpito de madeira talhada do final do século XVII e soberbo os ricos detalhes de seu coro. Destaca-se também sua coleção de quadros e esculturas de artistas da escola cusquenha. A Catedral conta com imensos ornamentos recobertos de ouro e prata que eram usados como instrumentos de grandiosidade pela igreja para auxiliar na catequização do povo cusquenho de origem inca. Nos impressionou muito as "armas" da Igreja Católica para catequisar os Incas chegando a expor imagens de Nossa Senhora vestida com ornamentos incas e imagens de Jesus com pele de cor escura além de um quadro da última ceia onde o prato sobre a mesa era Cuy (alimento Inca) e a bebida, Chicha (champagne dos Incas). Hoje a catedral se encontra em processo de restauração tendo algumas de suas salas fechadas para visitação.
Logo depois da catedral de Cuzco seguimos conhecendo a Igreja e Convento de Santo Domingo, erguido sobre Koriconcha, antigo templo inca que em quechua significa "recinto de ouro". Para sua construção, como se pode apreciar até hoje, se aproveitaram magníficos pedaços de pedra polida do santuário incaico Koriconcha. Também é possível observar uma importante série de pinturas sobre a vida de Santo Domingos de Guzman.
Já nos arredores da cidade conhecemos um pouco mais sobre a cultura inca na visitação de algumas de suas ruínas. Nas ruínas de Sacsayhuamay tivemos uma imponente mostra de arquitetura militar incaica. Esta fortaleza estava estrategicamente situada de modo a proteger a cidade de Cuzco. Hoje suas ruínas são famosas no mundo todo por suas imensas rochas talhadas e unidas com uma precisão assombrosa. Os incas construíram Cuzco em forma de um puma e essa ruína era sua cabeça!
Seguimos depois para as ruínas de Quenko e Puca Pucara. A primeira é um afloramento de rocha sobre o qual se lavraram estranhas representações místicas. Acredita-se que era dedicado ao culto da terra pois lá se encontra também galerias subterrâneas e um anfiteatro. O outro, Puca Pucara, compõem junto com Sacsayhuamay dois grandes centros de defesa de Cuzco na época incaica.
Por fim visitamos o sitio arqueológico de Tampumachay. Este foi feito com um conjunto de pedras finamente trabalhadas e conta com diversos tubos de água entre as pedras. Se imagina que o lugar era usado para o culto da água pelos incas. Apesar da chuva que caia todo o tempo pudemos comprovar a eficiência e a versatilidade da engenharia inca para a construção de seus templos e seus observatórios astronômicos.
De volta ao hotel recebemos a notícia de nossa ida para o caminho inca que seria feita amanha tinha sido cancelada por isso optamos por fazer Rafiting. Terminamos o dia mais uma vez comendo pollo com papas fritas (frango com fritas), um dos cardápios mais requisitados. (Dado)
09/02/00 Quarta-feira - Mais cultura e história!
Acordamos as 8:00 horas para fazer o Rafting. Fabiano não acordou bem e não dava certeza se ia. Carlos, o cara da agência, nos garantiu na noite anterior que o pessoal do rafting estaria no hotel por volta das 9:00 horas. Ninguém apareceu, tomamos um cano!!! Ligamos, tentamos achar o cara mas não fomos felizes. Fabiano ficou descansando no hotel e eu e o Gima saímos para conhecer um pouco mais da cidade. Fomos ao bairro de San Blas, o mais pitoresco de Cuzco, chamado o bairro dos artesanatos. Este local abriga os mais renomados artistas populares da cidade. Suas ruas são estreitas e empinadas onde se levantam construções coloniais de grande encanto. Todas as construções foram erguidas sobre bases feitas pelos incas, pois elas são sólidas e resistentes a terremoto. Aproveitamos para conhecer o Museo Arte Religioso, uma imensa casa que se ergueu sobre os muros do palácio de Inca Roca, e pertenceu aos marqueses de San Juan de Buenavista. Em seu interior se pode observar charmosos salões coloniais e uma magnífica capela com trabalhos barrocos dourados. Exibe também uma importante mostra de pintura cusquenha dos séculos XVI e XVIII. Em seu muro principal se encontra a famosa pedra inca de dose ângulos que, segundo estudos, serve como matriz de sustentação de toda a construção. Seguimos conhecendo a igreja de San Blas, construída em 1568. Sua maior riqueza consiste em uma importante coleção de pinturas em seu explendido altar barroco e seu celebre púlpito talhado em uma só peça de cedro e considerado o mais fino exemplo de talha colonial na América. Depois do banho de história e cultura voltamos ao hotel. (Dado)
10/02/00 Quinta-feira - Rafiting no Rio Urubamba
Conforme havíamos combinado com a agencia, saímos para fazer o rafting logo de manhã. Existem diversas categorias de rafting, dos mais calmos aos mais radicais. As categorias são colocadas em uma escala de 1 a 5, definida de acordo com o número de correntezas, desníveis do rio e perigo da aventura. Estreantes no esporte não queríamos moleza e enfrentamos de cara um nível 3,5 com picos de 5 graus na escala do rafting. O rio escolhido foi o Urubamba, distante cerca de 1,5h de Cuzco. Nosso guia Osvaldo, um argentino que vivia 17 anos no Peru, conhecia o percurso como a palma da mão e nos deixou tranquilos para aproveitar o emocionante passeio. A descida do rio dura cerca de duas horas e o pacote inclui translado de ida e volta para Cuzco e almoço depois do rafting, tudo ao preço de US$ 16,00 por pessoa. Sem dúvida valeu a pena fazer essa descida pois os visuais que se encontra são maravilhosos, a adrenalina é constante e a sensação de estar em pleno contato com a natureza é indescritível.
No final da tarde voltamos para Cuzco e aproveitamos para por o site em dia. Ficamos até tarde fazendo os preparativos para a Trilha Inca de Machu Picchu. (Dado)
11/02/00 Sexta-feira - A Trilha Inca
Chegou o grande dia!!! todos na vontade para conhecer a cidade perdida!!!
Acordar as 6:00 nunca foi tão fácil! Sem exceção pulamos da cama e impacientes esperamos a condução que nos levaria até o começo da aventura.
A maneira mais usual de se chegar a Machu Picchu é por via férrea. O trem sai de Cuzco todos os dias da estação San Pedro e percorre um total de 112Km até chegar ao povoado de Águas Calientes, cidade mais próxima de Machu Picchu. Desta cidade toma-se um ônibus e em 30 minutos chega-se na antiga cidade Inca.
Outra forma, menos usual e mais aventureira, é chegar a Machu Picchu caminhando como os antigos incas faziam. Existe duas maneiras de fazer este "caminho inca"... A primeira é ir de trem até o km 88 da estrada e ali começar uma caminhada de 4 dias onde é possível apreciar toda a beleza nativa da região. A caminhada não é fácil e é preciso estar com um bom condicionamento físico para não ter que parar e voltar. A segunda maneira é um pouco mais curta e dura cerca de 2 dias. Para isso se vai de trem até o Km 104 onde se cruza o rio Pacamayo, dando inicio a caminhada. Muitas agências de turismo em Cuzco fazem este tipo de passeio oferecendo guia, alojamento e comida para os aventureiros. Os preços e os serviços variam de acordo com a agência escolhida. Escolhemos fazer o caminho de 2 dias que começa no Km 104.
Depois de acordarmos muito cedo, pegamos o trem por volta das 9 da manhã. Um verdadeiro quilombo!!! Existem as pessoas que compram passagem antecipada e vão sentadas e uma infinidade de gente que vão de pé com sacolas imensas... evitamos os animais pois fomos de primeira classe (tem que ver o nível!!!). Depois de 4h de trem chegamos ao nosso destino. Em plena selva cortada pelo trilho do trem encontramos nosso guia e as outras dez pessoas que fariam a trilha com a gente. Cinco minutos caminhando cruzamos a ponte sobre o rio Pacamayo, dando inicio ao nosso caminho inca. Segundo Cristian, nosso guia, a caminhada seria de aproximadamente 4h de subida e deveríamos estar preparados para chuva.
A técnica de fazer trilhas utilizada pelos incas era bastante peculiar. Eles usavam as erosões e deformações naturais das montanhas para montar suas trilhas, por isso todo o caminho é feito por subidas e descidas, o que desgasta muito as pessoas, pois não existe uma caminhada constante.
A afirmação de que este trekking é um dos mais bonitos do mundo sem dúvida tem fundamento. Todo o tempo se vai contornando diversas montanhas do vale Urubamba em meio a farta vegetação, sempre tendo o rio Pacamayo aos seus pés... Muito lindo!! Depois de três horas e meia de íngreme subida, chegamos as ruínas de Inti Punko, onde encontramos um tipo de laboratório inca para experimentos com agricultura. Alí eles faziam pesquisas com diversos tipos de alimentos trazidos da região de Cuzco para observar a influência das diferenças de altura e clima nas plantações e, desta maneira, poder adaptar estas culturas para as regiões mais próximas.
Logo depois destas ruínas existe um grande refúgio com banheiro e restaurante onde nos abrigamos. Lá encontramos pessoas do mundo todo que estavam fazendo as diferentes trilhas Incas. Com a companhia do pessoal do nosso grupo e um jeitinho brasileiro conseguimos animar o lugar e fizemos uma grande festa para comemorar o término da chuva. (Dado)
12/02/00 Sábado - Machu Picchu
Nosso guia Cristian nos acordou cedo porque tentaríamos chegar ainda no escuro para apreciar o sol nascendo em Machu Picchu. Em pouco tempo percebemos que o tempo realmente não estava do nosso lado... chovia muito e fazia muito frio... faltava mais de 2 horas de caminhada para chegar em Machu Picchu. Apesar do clima, a empolgação do grupo estava grande. Enquanto tomávamos o café da manhã podíamos ver nos olhos dos nossos amigos muito entusiasmo, nada de cançasso, tristeza ou decepção.
Ajustamos nossas mochilas, nos abrigamos contra a chuva e partimos rumo a um dos lugares mais fascinantes do nosso continente... a mística cidade de Machu Picchu. Caminhávamos rápidamente embaixo da forte chuva que castigava a todos. Encontramos pessoas que haviam feito o caminho de 4 dias, de 3 dias e alguns loucos que fizeram o caminho de 4 dias em 3!!! Algumas pessoas estavam decepcionadas pois muitos esperavam um lindo dia de sol que recompensasse o duro esforço realizado para chegar até alí.
A cerca de 2000m da cidade, no alto de um mirador, nossa primeira visão de Machu Picchu. Simplesmente fantástico, emocionante e inspirador observar as ruinas em meio as imensas montanhas cobertas de verde.
Algo tão antigo e perfeito... Quando observávamos as ruínas não poderíamos deixar de pensar que tudo estaria muito mais belo se o dia estivesse também bonito, sem as nuvens que frequentemente bloqueavam parcialmente a visão do lugar...
Descemos para deixar nossas mochilas (procedimento obrigatório) e encontrar o resto do grupo que se encontrava em um restaurante localizado a pouquíssimos metros das ruínas. Encontramos toda galera encharcada e tomando chocolate quente... e seguimos com um guia especializado com o qual percorreríamos a antiga cidade...
Machu Picchu foi descoberta pelo antropólogo norte-americano Hiram Bingham em 1911 graças a informações proporcionadas por campesinos do lugar. Nosso guia nos comentava que Bingham chegou até alí com um intérprete e após dias de caminhada encontrou um campesino... perguntaram se sabia onde havia ruinas e este os levou até Machu Picchu pela ridícula quantia de 1 sol (US$0,30). Bingham chegou então a uma cidade coberta de árvores e musgo que rapidamente se tornou conhecida pelo mundo através da revista National Geographic, que financiou sua volta para coordenar grupos que estudariam a cidade.
As ruinas se encontram estrategicamente localizadas no alto nas montanhas Machu Picchu (em quechua, monte velho) e tem a sua frente Huayna Picchu (monte joven), em cujo cume se encontrou mais tarde restos arqueológicos. Ambas são rodeadas pelo rio Urubamba, que corre a mais de 400m abaixo da cidade...
Na cidade caminhamos pelas zonas que serviam para agricultura (terraças), pela zona urbana (casas e outros recintos) e pela zona sagrada (templos). Foi realmente assombroso apreciar o nível técnico com que os Incas trabalhavam as pedras, mostrados no Templo de las Tres Ventanas, Templo Central e Plaza Hundida. Nesta cidade havia ainda rochas de alto significado ritual, como por exemplo o Intihuatana ou relógio solar.
Enquanto caminhávamos pela cidade imaginávamos como seria a época de esplendor... gente trabalhando, crianças brincando, outros cultivando a terra, etc... tudo é possível com um pouco de imaginação.
Na verdade, por mais que existam teorias, não existe um consenso sobre qual era a real função de Machu Picchu... alguns dizem que era uma cidade comum como outras, outros dizem que funcionava como um templo sagrado e outros dizem ainda que era a morada do antigo imperador Inca.... enfim... diversas teorias surgiram com o passar dos anos mas você mesmo deve vir aqui e tirar suas próprias conclusões.
Descemos então, ainda pasmos, até a cidade de Águas Calientes para tomarmos o trem para Cuzco. Enquanto esperávamos o trem comemos o popular "choclo con Queso" (Milho com queijo), vendido em todas as ruas do Peru. Este milho é realmente grande! Cultivado desde o tempo dos Incas, chegam a ter seus grãos 3 vezes maiores que os de um milho normal.
A cidade de Aguas Calientes é muito turística, cheia de restaurantes e lojas de artesanato... algo lógico considerando que é o último ponto antes de subir até Machu Picchu.
Partimos no trem das 14s e chegamos a Cuzco as 18:30. Fomos ao hotel para descansar um pouco e tomarmos banho (que alívio!). Mais a noite saímos para jantar com Andrés, Alejandra e Marcelo, nossos companheiros do grupo da caminhada Inca. (Gimenez)
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