Etapa 16 - CRUZANDO TODA BOLÍVIA

Países: BOLÍVIA

Datas: 16/02/00 a 21/02/00

 

16/02/00 Quarta-feira - City Tour na capital boliviana

La Paz, capital da Bolívia, foi fundada em 1548 pelo espanhol Alonso de Mendoza. Está situada a mais de 3.500m de altura sendo uma das capitais mais altas do mundo. Sua população de 1.600.000 habitantes vive em sua maioria do comércio. Muitas delas trabalham de maneira informal vendendo seus produtos na beira da rua em barraquinhas muito parecidas a dos vendedores ambulantes de São Paulo. Seu trânsito é intenso e confuso e não existem muitos semáforos... o controle é feito pelo mais forte. Uma curiosidade sobre a Bolívia e que o diesel é mais caro que a gasolina.

De manhã saímos para fechar dois passeios que faríamos aqui na capital do país. Um city tour e uma visita ao monte Chacaltaya, com mais de 5.300m de altura. Marcamos o tour para as 15:00 horas e a visita ao monte para o dia seguinte. Na rua Illampu, a mesma de nosso hotel, existem várias agências de turismo que fazem esses tours, pechinchando se consegue sempre um bom desconto.

Como combinado saímos as 3h para fazer o tour pela cidade. Para nossa decepção, o roteiro que nos haviam passado na agência havia sido reduzido drasticamente. Segundo nossa guia teríamos três horas para recorrer a cidade e ainda conhecer o Vale da Lua, distante trinta minutos de La Paz, ou seja, menos de duas horas para ir aos museus, praças, catedrais, miradores, enfim conhecer tudo da capital. Lógico que não era tempo suficiente e teríamos que nos contentar com o mínimo. Ficamos indignados, mas já estávamos fazendo o tour só nos restava aproveitar o pouco que tínhamos.

A primeira parada foi na praça central da cidade chamada Plaza Murillo. Esta praça faz parte da história do país pois neste local importantes pessoas morreram em nome da independência da Bolívia frente aos conquistadores espanhóis. É o caso de um de seus maiores lideres: Pedro Domingo Murillo, que morreu enforcado nesta praça que leva seu nome. A Bolívia viveu em guerra de 1809 até 1825 quando Simon Bolívar ganhou importantes batalhas contra os espanhóis e proclamou a independência do país. Pudemos depois conhecer a casa de Pedro Murillo que foi na época lugar de diversas reuniões para a independência do país. Hoje esta casa é um importante museu com quadros e peças da época. Outro museu visitado, rapidamente por que o tempo era curto, foi o Museu dos Metais Preciosos, onde se encontra um rico artesanato em ouro e prata dos índios que viviam na região bem antes da chegada dos espanhóis. Outros dois museus podem ser visitados na rua Jaén: Museu Costumbrista e Museu Del litoral Boliviano. A entrada para estes quatro museus pode ser comprada de uma só vez ao preço de 0,75 centavos de dólar.

Depois dessa rápida visitação na parte histórica da cidade, seguimos para o mirador de La Paz onde apreciamos o grande símbolo da cidade, o monte Chacaltaya, e pudemos constatar que La Paz está toda cercada por uma grande cadeia de montanhas com mais de 4.000m de altura. Nosso city-tour terminou no tão esperado Vale da Lua que nos tomou tanto tempo. O vale não se parece nada com o que existe em São Pedro do Atacama, é pequeno, rodeado de montanhas e tem no seu fundo um pequeno rio que os moradores locais usam para extração de pepitas de ouro.

Terminado o tour, fomos por conta própria a outro ponto de interesse da cidade... a Rua das Bruxas, onde se vende um rico artesanato boliviano e, é claro, ingredientes mágicos para bruxarias, poções e amuletos para a sorte, amor, dinheiro, etc... Macabro e interessante!

Já de noite voltamos para o hotel e fomos a uma internet para responder a alguns e-mails. (Dado)

17/02/00 Quinta-feira - Ponto mais alto da expedição (231Km)

Atrasados saímos para fazer a visita ao Monte Chacaltaya. Do centro da cidade até o monte são uma hora e meia de estrada de terra bem prejudicada. Devida a grande altura a estrada começa a ter neve, o que torna até certo ponto perigosa a sua travessia.

A grande atração de Chacaltaya é sua pista de esqui a mais de 5.000m de altura, considerada a mais alta do mundo.

O programa da visita era chegar até o seu cume, porém a grande quantidade de gelo que havia na estrada fez com que o veículo que nos transportava ficasse sem tração para subir o resto da estrada. Bem, tivemos que subir os 800 metros restantes a pé, o que não é tão fácil quando se está a quase 5.000m de altura. Eu e o Fabiano fomos tranquilos observando a paisagem que era deslumbrante. Por sorte nossa, conseguiram limpar a estrada e pegamos uma carona até quase o topo do monte.

Batemos um recorde em nossa expedição... Ultrapassamos os 5.000m de altura!!! O Gima foi um pouco mais alto e chegou aos 5.300m.

De volta a cidade de La Paz, preparamos nossas coisas e saímos do hotel onde estávamos. Tínhamos a esperança de chegar a Cochabamba, porém perdemos muito tempo trocando uma bucha danificada da suspenção e acabamos dormindo em Oruru, uma cidade no caminho para Cochabamba muito conhecida pelo seu carnaval. Demos muita sorte pois assim que chegamos na cidade tivemos a chance de ver o desfile de preparação para o carnaval. Muito bonito, com passos ritmados os grupos de pessoas desfilam pelas ruas da cidade. Nesta cidade encontramos também o hotel mais barato de toda a nossa viagem... dormimos por cerca de 2 dólares por pessoa!!! Um absurdo de barato e ainda com estacionamento incluído!!! Negócio da China. (Dado)

18/02/00 Sexta-feira - Pedágios e Propinas (727Km)

Hoje o nosso caminho foi bastante longo. Percorremos 727m entre Oruru e Santa Cruz de La Sierra. Entre essas duas cidades passamos por nada mais nada menos que 9 pedágios, 4 paradas policiais e "contribuímos" com os guardas em duas ocasiões.

Um dos trechos, entre Oruru e Cochabamba, é feito a mais de 3.000m de altura. Uma densa floresta esverdeada com muitas cachoeiras envolve a estrada. Um fenômeno que observamos por toda rodovia é a grande quantidade de cachorros... eles estão por todas as partes sem ter ninguém por perto e ficam sentados observando o trânsito.

Depois de 3 horas e meia na estrada, chegamos a cidade de Cochabamba, capital do estado de mesmo nome. Conta com uma população de 400.000 habitantes sendo a terceira cidade mais importante da Bolívia. Aproveitamos a oportunidade de estar em uma cidade grande como esta para reabastecer o tanque e almoçar. Como não tínhamos muito tempo fomos ao Mc Donalds onde o Gima acabou conhecendo duas compatriotas paraguaias, coisa rara!!!

Seguindo para Santa Cruz, conhecemos um dos hábitos mais frequentes dos policiais bolivianos, a propina. Eles pedem na cara de pau, sem desculpa ou motivo "una contribuición para a policia". Na primeira vez foi cerca de 0,75 dólares... não é muito e não valia a pena ficar discutindo, mas na segunda o policial abusou... Dizia que devíamos ter um tal certificado de manutenção do veículo que comprovasse a qualificação do carro quanto ao estado de conservação... o pior é que este certificado é boliviano e ele dizia que teríamos que ter o brasileiro!!! Como não tínhamos, teríamos que pagar 100 bolivianos de multa (US$ 16,00) para ele!!! Continuamos insistindo e falamos que aquilo era um absurdo, que não haviam nos informado nada disso na fronteira ou no consulado e que não tínhamos dinheiro para isso... a negociação continuou e acabamos reduzindo o valor inicial para 20 soles peruanos, um troco que eu tinha no bolso e que o cara nem sabia quanto valia.

Já de noite chegamos em Santa Cruz de La Sierra. Além dos dois casos de malandragem dos policiais, tivemos que pagar outras nove paradas em pedágios... pena que as estradas não são boas para tanto.

A cidade parece ser muito desenvolvida e bonita. Nos hospedamos no Hotel Copacabana no centro da cidade e deixamos o carro em um estacionamento bem na frente. (Dado)

19/02/00 Sábado - Carnaval em Santa Cruz

Santa Cruz de La Sierra é a segunda maior cidade da Bolívia com 800.000 habitantes. Com aeroporto internacional, bons hotéis e ótimos restaurantes. Uma cidade que acomoda bem seus visitantes apesar de não ser uma cidade turística.

Santa Cruz tem o maior comércio da região o que a faz ser uma cidade rica e com bastante infraestrutura para atender os inúmeros brasileiros que vão até lá para estudar em suas universidades. A cidade é muito bem planejada e conta com círculos de avenidas (anillos) para facilitar o tráfego de carros. São cinco grandes anéis que contornam toda Santa Cruz ajudando muito a locomoção pela cidade.

Uma peculiaridade do lugar é a grande quantidade de carros que são trazidos de Iquique (Chile) com o painel invertido, ou seja, a direção fica na direita. Esses veículos são trazidos do Japão para Iquique como carros de segunda mão e são revendidos depois para Santa Cruz de La Sierra. Os caras não se importam em trocar o painel e mudam apenas o volante de lado, deixando todos os instrumentos de lado do passageiro... estranho e engraçado!!!

Aproveitamos a manhã e parte da tarde para fazer nossas atualizações na internet e saímos depois famintos atrás de uma boa churrascaria para matarmos saudade de casa... por azar era cedo e todos os bons restaurantes estavam fechados. Resolvemos então voltar para o hotel, esperar e depois voltar ao restaurante. Tive a idéia de matar o tempo assistindo um filme no cinema, coisa que não fazíamos ha tempo. Fomos assistir "O informante".

Ficamos surpresos quando saímos do cinema e nos deparamos com uma multidão de pessoas aglomeradas na rua. Não sabíamos, mas hoje estava sendo a festa de pré-carnaval da cidade com um grande desfile das escolas de samba. Tudo muito diferente do nosso carnaval e, de alguma forma, tentando copiar. (Dado)

20/02/00 Domingo - Rumo ao Brasil (494Km)

Nossa maior preocupação agora era com relação ao caminho que nos levaria ao Brasil. Sabíamos que era transitável pois, mesmo agora na época de fortes chuvas, as empresas de ônibus continuavam a fazer suas viagens... obviamente que o trecho poderia durar de 2 a 7 dias, de acordo com toda imprevisibilidade da estrada. Nossa principal preocupação era mesmo com os lugares seguros para se passar a noite pois o caminho é cheio de traficantes e bandidos brasileiros e bolivianos.

Falamos com motoristas desta rota e com o pessoal das empresas de ônibus... acabamos resolvendo que faríamos o caminho por San Ignácio, passando por Concepcion e atravessando a fronteira em San Matias... que nos pareceu ser o mais seguro e mais rápido.

A vontade de voltar ao Brasil é grande. Saber sobre todas as novidades, sentir que está em seu país, falar português e comer feijão com arroz... coisas muito simples que só são valorizadas quando se sente falta de verdade.

Como as estradas são de terra, planejamos ir até San Ignácio hoje e amanhã cruzaremos a fronteira. Para isso saímos cedo de Santa Cruz e começamos um caminho de 498 km até San Ignácio. A estrada era realmente muito ruim e 40km depois de Santa Cruz o asfalto acaba e inicia o caminho de terra. Levamos 10 horas para fazer este percurso, tivemos 1 pneu estourado, pagamos pedágio 3 vezes e demos suborno aos guardas 2 vezes. A única coisa que realmente compensou foi a paisagem que era bonita e já se parecia muito com a que temos no Brasil.

Por volta das 20:00h chegamos em San Ignácio e nos alojamos no Hotel Guapomó, com garagem privada 1 milímetro mais alta que nosso carro. Qualquer dia teremos que esvaziar os pneus para entrar em alguma garagem já que a Rainha com seu volumoso bagageiro não aceita entrar em qualquer buraco!!!

Fabiano ficou conversando com o cara e se interando de todas as confusões que estavam acontecendo na região, como os frequentes roubos de cargas brasileiras ou assaltos de bandidos brasileiros... fomos descobrir que uma semana antes rolou uma reunião com pessoas importantes de Brasília em Cáceres e que a fronteira corria até mesmo o risco de fechar!!! (Dado)

21/02/00 Segunda-feira - Chegamos ao Brasil (442Km)

Hoje, depois de mais de dois meses de viagem, após passar por 7 países e conhecer as mais diversas culturas e diferentes povos, estaremos de volta ao Brasil!!! País natal meu e do Fabiano. Que beleza!!!

Antes de pensar em estar no Brasil, tínhamos que analisar o difícil dia que iríamos ter pela frente. Resolvemos rapidamente o problema do pneu que havia furado no dia anterior e botamos o pé na estrada. Muitos quilômetros nos separavam da fronteira de San Matias. Foi um dia difícil, muito calor, poeira demais, uma estrada muito mal conservada com diversos buracos, trânsito de caminhões, trechos alagados... Passamos o dia todo em forte estado de tensão e rezando para não chover.

O principal perigo era ser assaltado, pois tínhamos a notícia de que a situação na região não era das melhores e alguns caminhoneiros brasileiros tinham sido roubados neste caminho. Além disso tudo sabíamos que o governo brasileiro estava ameaçando fechar a fronteira e cortar a energia elétrica para a Bolívia. Obviamente que chegar ao Brasil tinha que ter um gostinho especial e um pouco de sofrimento e estress!

Logo em um dos primeiros atoleiros que paramos para analisar a situação conhecemos dois casais loucos em uma Kombi. Nacho, o motorista, era espanhol, jornalista e estava a três anos viajando por parte da Europa e quase toda a América... não tinha tempo ruim para ele, vivia de vender matérias para os jornais e revistas que se interessavam pelo seu trabalho e quando não conseguia nada, fazia artesanatos para continuar o seu giro. Quando estava passando pelo Equador encontrou uma garota e juntos compraram uma Kombi muito velha de um cubano e seguiram viagem rumo ao Brasil, especificamente Bahia, onde estão querendo passar o carnaval. Ela se chama Patrícia e era médica no Equador. Em Santa Cruz de La Sierra o grupo ficou completo com a entrada do casal Rossi e Yuri, bolivianos que estão indo também conferir o carnaval no Brasil. Com eles, passamos boa parte do nosso trajeto o que fez a viagem ficar um pouco menos monótona e estressante. Servimos como carro de apoio para eles, já que em diversas ocasiões fizemos reparos na Kombosa deles, que insistia em furar um pneu por hora!!! Sempre é muito interessante conhecer pessoas assim, despregadas de qualquer coisa e que largam tudo para sair e conhecer o mundo!!!

Por volta das 20:00h chegamos em San Matias. A cidade não é muito amigável e várias pessoas ficaram de olho feio em nossa Rainha, por isso rapidamente seguimos para a fronteira, distante 7 Km da cidade. Não tivemos problema no posto de guarda. Um único detalhe foi esquecido pelos policiais bolivianos, eles não registraram nossa saída do país. Como estávamos morrendo de vontade de voltar ao Brasil, não demos importância a esse detalhe. O que importava é que em breve estaríamos em terras brasileiras, especificamente em Cáceres, onde iríamos dormir.

Nosso único desejo, a única coisa que conseguíamos pensar era em FEIJÃO... o velho e bom feijão brasileiro! Chegamos na cidade de Cárceres já bem tarde da noite e não tivemos dúvida, perguntamos pelo melhor feijão, quer dizer, pelo melhor restaurante da cidade, antes mesmo de saber onde ficava algum hotel. Nunca foi tão fácil escolher o que comer em um restaurante... FEIJÃO, arroz, mandioca, farofa e carne. (Dado)

 

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