Etapa
18 - RUMO AO NORTE / DELTA
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Países: BRASIL |
Datas:
24/02/00 a 01/03/00
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24/02/00 Quinta-feira - Vamos direto para Goiânia
Saímos as 9:00 horas de Cuiabá dispostos a encarar duras horas de asfalto. Como estamos atrasados decidimos que era hora de realizar um sacrifício, ou seja, dirigir dois dias seguidos (aproximadamente 1.000 km por dia) para chegar em Palmas, capital do estado do Tocantins.
Enchemos o tanque, compramos gelo para o tereré e partimos com a intenção de descançar em Goiânia, localizada a aproximadamente 1000Km de Cuiabá.
Partimos pela BR 163 rumo a Rondonópolis em um trajeto que é um verdadeiro pesadelo. Esse trecho se encontra em péssimas condições. O asfalto é muito ruim, existem diversos caminhões e uma quantidade infinita de buracos gigantescos que faziam a velocidade média cair vertiginosamente. Em Rondonópolis tomamos a BR 364 rumo a cidade de Mineiros para assim seguir para Goiânia. Para nosso descontentamento, o asfalto estava nas mesmas condições do trecho anterior, muito ruim. Foram outros lentos 330Km que nos levaram até a cidade de Mineiros, onde o asfalto melhora consideravelmente e é possível manter uma velocidade regular.
Revezando a direção diversas vezes, continuamos um pouco mais rápido até a cidade de Goiânia, onde chegamos por volta das 23:00 horas. No total foram 1016Kms desde a cidade de Cuiabá até Goiânia e grande parte do caminho em ritmo bastante lento. Passamos por Goiânia e seguimos rumo a Anápolis mas acabamos parando em um posto policial para descançar. (Gimenez)
25/02/00 Sexta-feira - A cidade planejada de Palmas
Eram 6:45h quando se pôde escutar as reclamações de três sujeitos que não haviam dormido muito bem. Com uma preguiça geral, dirigimos alguns quilômetros até que paramos em um posto de gasolina para tomar um café da manhã. Um pouco mais tranquilos e depois de uma boa higiene pessoal continuamos em direção a Palmas, já no estado do Tocantins.
Tomamos a BR 153, única opção para seguir para o norte do país pelo estado do Tocantins. Eram 14:30 e já havíamos andado 500Km no momento que cruzamos a fronteira dos estados de Goiás e Tocantins. Seguimos pela BR153 até chegar na cidade de Fátima. Para chegar a cidade de Palmas é preciso sair da rodovia principal e ir sentido leste, já que esta se encontra a aproximadamente 133Km de Fátima. Escolhemos este desvio, já que tomando a outra forma de acesso (por Paraíso de Tocantins) é necessário pegar uma balça e isso seria um pouco mais demorado.
Chegamos a Palmas por volta das 20:00h e ficamos impressionados desde o primeiro momento em que entramos na "cidade planejada". Palmas é uma das únicas grandes cidades planificadas existentes no Brasil. Seguindo o exemplo de Brasília, é uma das cidades que mais cresce no país. Passeamos por algumas de suas amplas avenidas e não foi difícil encontrar um bom lugar para ficarmos pois todos os hotéis da cidade se encontram em um único bairro... coisas de cidade planejada. (Gimenez)
26/02/00 Sábado - O drama do Tererê (por Gimenez)!!!
Depois de um café da manhã reforçado saímos em direção a Carolina, localizada a 545Km de Palmas. Continuamos pela BR153, conhecida como Belém- Brasilia.
O calor desta parte do país é impressionante, uma média de 35C na sombra!!! O elemento mais importante é o bom e velho tereré, arma fundamental de nossa expedição. É justamente sobre esta tradição paraguaia que quero me estressar em algumas poucas linhas. Uma pergunta importante: É necessário ser paraguaio para saber tomar tereré? Não sei qual é a opinião de vocês, mas eu penso que sim e conto porque. Faz mais de dois meses que ando tomando tereré com Rodrigo e Fabiano e até agora não tomei um tereré decente. Até pensei em escrever umas regras de como se fazer tereré para estrangeiros para ver se meus companheiros melhoram. Quando estou ao volante e quero tomar um tereré é um desastre... me servem 7 tererés seguidos, depois param meia hora e se esquecem que estavam tomando, tem que pedir todo o tempo que te dêem outro e, se pede mais de uma vez, te dão mais 10 seguidos, uma desgraça!!
Subimos 400 km pela BR 153 até chegar a cidade Araguaina, onde tomamos um desvio que nos levaria até a cidade de Carolina.
Existe um trecho de 55Km de terra antes de chegar até a balça, o terreno é ruim e com muitos buracos. Antes de chegar a Carolina cruzamos o rio Tocantins em uma pequena balça local. Nas margens do rio jantamos em um restaurante local localizado em frente da Pousada dos Lajes, onde aproveitamos depois para descançar. (Gimenez)
27/02/00 Domingo - O pior asfalto do mundo!!!
Bem cedo partimos de Carolina do Norte pela BR 230 com direção a cidade de Floriano. Os 160Km até a cidade de Balças se encontram em péssimas condições. Em alguns momentos a pista melhora mas derrepente enormes buracos surgem podendo arruinar toda suspenção do carro. Transitamos em ritmo lento até Balças onde o asfalto ja começa a melhorar muito.
Sequimos pela mesma estrada, passamos pelas cidades de São Raimundo das Mangabeiras e Pastos Bons antes de chegar até Floriano. Em Floriano, deviamos tomar um desvio para Teresina, mas nos equivocamos e avançamos 35Km pela estrada errada. O pior de tudo que este caminho estava todo ele esburacado e levamos quase duas horas para ir e voltar!!! Voltamos até Floriano e tomamos a BR153 que nos levaria até Teresina.
Em pouco tempo nos demos conta que chegar até Teresina (localizada a 330Km) seria impossivel. O caminho estava deploravel, o pior asfalto que vimos na vida. Não podiamos superar os 30Km/h!!! Buracos gigantes que ocupavam toda a estrada.
O ambiente estava muito tenso, já que avançávamos muito lentamente e seguidamente paramos para não danar nosso veiculo em algum buraco gigantesco. Para piorar as coisas, haviamos escutado que em alguns lugares haviam ocorridos roubos de carros, os ladrões se aproveitam da lentidão dos veiculos para atuar. Vendo que escurecia, mais que nunca lamentamos por ter tomado um caminho equivocado, o que nos fez perder tanto tempo.
Dirigimos mais de uma hora lentamente por estas regiões desabitadas e escuras até chegar na cidade de Amarante, uma das poucas cidades com certa estrutura hoteleira da região.
Chegamos a pensar que o asfalto melhoraria e que podíamos chegar ainda hoje em Teresina mas decidimos ser precavidos e nos informarmos em Amarante. Perguntamos para alguns moradores em que condições estava a estrada e nos disseram que estava péssima e que o melhor mesmo era dormir por ali mesmo pois transitar a noite por esta região era bastante perigoso.
Decidimos por unanimidade parar e procurar um hotel com uma boa garagem. Acabamos ficanco na pousada "Velho Monje", localizada nas margens do Rio São Francisco. Pagamos R$30 por um quarto bem simples com um bom ar condicionado. (Gimenez)
28/02/00 Segunda-feira - A capital dos caranguejos!!!
Descansamos muito bem em Amarante e de manhã estávamos prontos para dirigir as horas que fossem necessárias para chegar até a cidade de Parnaíba, porta de entrada para conhecer uma das atrações mais impressionantes de nosso continente, o Delta do Parnaíba.
Novamente começamos o dia dirigindo por péssimas estradas!!! Foram 167Km de buracos e muitas freadas até que finalmente chegamos a bela cidade de Teresina, onde pudemos conferir o mérito do titulo de cidade mais quente do Brasil. Quase tão quente quanto o Chaco paraguaio!!!
De Teresina seguimos rumo a Parnaíba pela rodovia BR 343 (Transpiauí), que se encontra em bom estado. Dirigimos 362Km com muita vontade de chegar em Parnaíba, onde descansaríamos por alguns dias. Esses últimos dias foram muito cansativos, já que dirigimos quase todo o tempo.
Chegamos em Parnaíba por volta das 18:00h preoculpados em encontrar alguma agência de turismo aberta para já conseguir fazer passeio do Delta do Parnaíba amanhã. Encontramos a única agência aberta e compramos um pacote ao preço de R$30,00 por pessoa, o que incluia o barco, guia turístico e almoço.
Na própria agência já encontramos uma pousada legal para as próximas duas noites. Optamos pela Pousada Rio Mar, uma pousada nova, administrada por pessoas muito atenciosas. Marcos, um italiano radicado no Brasil, administra a pousada e também realiza passeios de buggy e lancha pela região.
Deixamos a rainha estacionada do lado de fora do estacionamento pois já iríamos sair para jantar. Em pouquíssimo tempo chamamos a atenção de algumas pessoas que passavam pela rua... César, que trabalha como câmera e é um aficionado por jeeps se dispôs a agendar algumas entrevistas com os meios locais para que pudéssemos compartilhar um pouco das nossas aventuras.
Conversamos bastante e decidimos sair em busca de um bom restaurante para comer o famoso caranguejo da região. Parnaíba é a capital do caranguejo do Brasil... Semanalmente se extraem mais de 80.000 caranguejos na região!!! Fomos ao restaurante Kim do Caranguejo, afamado restaurante local que serve um dos mais saborosos caranguejos de toda a região.
Uma verdadeira aventura!!! Comer caranguejos não é nada fácil... As armas foram distribuídas: um martelo de madeira e uma pedra para apoiar o caranguejo para cada um!!! Lutamos contra os indefesos caranguejos e pouco a pouco fomos conhecendo a dificil arte de comê-los. Martelar aqui, morder ali... com muita paciência desfrutamos esse típico prato da região. Bom divertimento por um preço bem baixo... A "corda" de caranguejos (4 unidades grandes) custa R$3,00. (Gimenez)
29/02/00 Terça-feira - Conhecendo o único delta da América do Sul
A foz do rio Parnaíba forma a figura de um grande delta (letra grega parecida a um triângulo). É um fenômemo e uma beleza tão rara que a natureza somente concedeu a outros três rios no mundo... Sua área total é estimada em 2700km quadrados, divididos entre os estados do Maranhão e Piauí. No total são 73 ilhas que formam a foz deste rio e algumas destas ilhas até hoje não são habitadas nem conhecidas. Suas maiores ilhas são: Grande do Paulino, Cajú, Canárias e Santa Isabel. Um gigantesco cenário feito pela natureza que tivemos a honra de conhecer hoje.
Nosso passeio começou na frente da agência de turismo Morais Brito, onde conhecemos as outras pessoas que iriam fazer a excursão. Seguimos de van até a ilha Grande de Santa Isabel, que é ligada a cidade de Parnaíba por uma grande ponte, onde embarcamos em um grande barco que nos levaria para conhecer a única foz em forma de delta da América do Sul.
A vegetação típica de toda região do delta é o manguezal, habitat dos famosos caranguejos da região.
Percebe-se que a foz do rio é um grande labirinto de difícil acesso, com trechos estreitos, trechos muito largos e com grande variação em sua profundidade o que torna o rio difícil para a prática da navegação. Nossa primeira parada foi em uma das fantásticas ilhas do rio, que tomada de dunas promove uma beleza rara... essa ilha marca o encontro do rio Parnaíba com o Oceano Atlântico. É muito curioso poder observar esse encontro, de um lado as águas escuras e pesadas do rio e de outro o azul inconfundível do mar. Realmente muito bonito!!! Pudemos nos banhar no rio e depois de alguns minutos pegar "jacarés" nas ondas do mar.
Depois de apreciar toda essa beleza, tivemos um belo almoço as margens do rio. Um maravilhoso peixe com entrada de caranguejos!!! O Gima neste momento já foi aclamado como mestre na difícil arte de destroçar caranguejos... Comeu uns 30 deles!!! Não parava nunca e já começava a comer até as tripas, pulmão e ossos internos dos bichinhos... até as pessoas que estavam na excursão ficaram espantadas com a habilidade e voracidade do rapaz.
Seguindo nosso belo passeio fizemos ainda outra parada em uma região de enormes dunas... Agora vamos praticar o divertido "skibunda", uma espécie de esqui realizado nas dunas com pranchas de madeira. As pranchas são cobertas de parafina para deslizarem mais rápido!!! Você pode ainda escolher entre descer em pé ou sentado... lembrando sempre que a areia e meio dura dependendo da velocidade e da altura do tombo!!! Muitas risadas, muitos tombos e diversão garantida nas grandes dunas da foz do Parnaíba.
Nos despedimos do delta na certeza de voltar algum outro dia e encontramos o nosso mais novo amigo César, da TV Delta, que nos apresentou a um pessoal bem bacana do jeep clube de Parnaíba, com os quais saímos para jantar e trocar histórias sobre trilhas e jipes. (Dado)
01/03/00 Quarta-feira - Chegada inédita a Jericoacoara
Aproveitamos essa manhã para atualizar nosso site na internet e, por intermédio de nosso amigo César, acabamos concedendo uma entrevista para a TV Delta, uma retransmissora da TV Cultura na região.
Infelizmente era hora de irmos embora, tínhamos que continuar nossa viagem... Já perdemos as contas de quantas vezes um lugar bonito e alegre nos deixou com dor no coração na hora da partida mas, a verdade deve ser dita, o Parnaíba deixa muitas saudades a todos seus visitantes!
Antes de partimos pegamos uma trilhazinha com o César e fomos conhecer a Lagoa do Portinho, distante 14Km da cidade de Parnaíba, já no município de Luiz Corrêa. O que chama a atenção desta lagoa é que ela é rodeada de dunas que acabam na água, o que causa uma impressão engraçada!!! Luiz Correa apresenta uma boa infraestrutura para turistas com restaurantes e posadas muito bonitas propícias para o relaxamento.
Saímos de Luiz Corrêa com direção a Camocim, onde iríamos pegar uma balça para o início de uma grande aventura... estávamos dispostos a enfrentar de noite a trilha de 50km que separa Camocim de Jericoacoara!!!
O primeiro problema foi com a balça que era minúscula e nos deixou preocupados se a Rainha não ia naufragar!!! Foi uma travessia tensa mas sem problemas.
Já era noite e não existem estradas demarcadas pelo caminho que pretendíamos fazer... chamamos então um dos molequinhos que se ofereceram para nos acompanhar. Seu nome era Márcio e no começo até que ele ajudou mas depois ficou mais perdido que a gente, uma figura. Ele ia nos levar até um vilarejo perto de Tatajuba onde ele dizia que iria encontrar sua namorada.
Quando chegamos nesse vilarejo tivemos duas notícias ruins: a primeira é que Márcio continuaria conosco até Jeri, pois sua namoradinha não estava lá e, a segunda é que o rio que cruzaríamos adiante havia "sangrado", ou seja, havia transbordado e, para chegar até Jeri inevitavelmente teríamos que atravessá-lo passando por uma região alagada e cheia de areia "movediça".
Ariscamos, assim como no episódio do Chaco paraguaio, pois queríamos chegar hoje ainda em Jeri. Seguimos os conselhos de alguns moradores curiosos que apareceram por lá em meio a escuridão e encontramos os melhores lugares para realizarmos a travessia.
Alguns quilômetros adiante chegamos na vila de Tatajuba, onde novamente atravessamos um rio em uma balça de dar medo... eram ainda menores que a outra e movidas a remo.
Eram mais de 21h quando para desespero do Fabiano pudemos avistar as "luzes" de Jericoacoara!!! O desespero era porque a três anos quando ele esteve aqui a cidade não tinha luz elétrica... para ele um grande atrativo do local que ajudava a conservar a beleza da região mantendo longe certos turistas mal educados que não acrescentavam nada ao lugar...
Imprescionante também, segundo ele, o grande número de pousadas que apareceram na vila!!! Logo que chegamos fomos cercados por inúmeros "agenciadores" de várias pousadas diferentes oferecendo as mais absurdas promoções... Escolhemos a que parecia ser mais segura para a Rainha, pousada Tirol, e saímos para jantar e comemorar nossa chegada após uma grande aventura. (Dado).
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